Revogação de prisão de neto de ex-senador causa revolta na Paraíba
Herdeiro
do maior grupo da indústria alimentícia da Paraíba e da afiliada da TV Globo é
acusado de atropelar e matar um agente do Detran ao fugir de uma blitz da Lei
Seca. Juíza mandou prendê-lo, mas desembargador revogou a prisão às 3h da
madrugada
O estudante Rodolpho Gonçalves Carlos da Silva, herdeiro do maior grupo da indústria alimentícia da Paraíba e da afiliada da TV Globo no estado, é acusado de atropelar e matar um agente do Detran ao fugir de uma blitz da Operação Lei Seca na madrugada de sexta para sábado (21), em João Pessoa. Segundo testemunhas, o motorista fugiu sem prestar socorro à vítima. Levado para a UTI de um hospital de traumas, o agente Diogo Nascimento Sousa, de 34 anos, morreu na noite desse domingo. O caso gerou revolta e indignação em todo o estado devido à suspeita de favorecimento da Justiça ao acusado, que é neto do ex-senador e ex-vice-governador da Paraíba José Carlos da Silva Junior.
Rodolpho
teve a prisão preventiva decretada por uma juíza do 1º Juizado Especial Misto
de Mangabeira e revogada pelo desembargador Joás de Brito Pereira
Filho, horas depois, antes mesmo de a prisão ser realizada. Entre uma
decisão e outra, foram pouco mais de seis horas. A prisão de Rodolpho foi
determinada por volta das 20h de sábado. Já a decisão que suspendeu a prisão
foi realizada por volta das 3h da manhã de domingo. Esse foi o tempo necessário
para que a defesa do jovem, mesmo sem ter sido notificada, fizesse um habeas
corpus e apresentasse ao juiz, que, por sua vez, analisou o HC e redigiu
sua decisão anulando a decisão anterior da magistrada.
A
juíza plantonista Andréa Arcoverde Cavalcanti Vaz decretou a prisão sob o
argumento de que Rodolpho poderia destruir provas, já que fugiu do local. No
entanto, o desembargador Joás de Brito revogou a ordem, alegando não haver
motivos para manter o jovem sob custódia. O mesmo desembargador negou pedido de
habeas corpus a um acusado de cometer crime semelhante, em 2013, ao fugir de
uma blitz da Lei Seca.
Em
entrevista à rádio Band News, Joá disse que a prisão de Rodolpho Carlos era
desnecessária, porque ele é réu primário e tem bons antecedentes criminais.
Segundo o magistrado, sua decisão foi eminentemente técnica. “Eu analisei a
prisão temporária, não preventiva, onde verifiquei que não haveria necessidade
da prisão por ele ser primário e ter bons antecedentes. O advogado dele
apresentou uma petição onde disponibilizou o carro, e o suspeito se propôs a
comparecer para prestar esclarecimentos”, declarou. “A decisão não foi apenas no
sentido de liberá-lo. Eu condicionei a apresentação dele em 72h, apliquei
medidas cautelares para evitar prisões desnecessárias. O fato foi grave, mas
será apurado e a justiça tomara as medidas”, acrescentou.
Em
nota, os agentes de policiamento de trânsito do Detran da Paraíba cobraram
justiça e tratamento isonômico ao acusado. “Não se espera, de maneira alguma, o
cerceamento do direito de defesa do acusado, mas também, não se espera nenhum
grau de parcimônia por parte do poder judiciário com relação à conduta
criminosa por ele praticada. Sendo assim, os agentes de policiamento do
Detran-PB e todos os envolvidos direta e indiretamente com a Operação Lei Seca
na Paraíba, clamam para que o caso seja tratado de maneira isonômica, e que o
cidadão Rodolpho Gonçalves Carlos da Silva, independente de classe, cor, raça
ou condição financeira, responda por suas condutas como estão sujeitos todos os
cidadãos brasileiros”, diz o comunicado (leia a íntegra abaixo).
O
promotor Marinho Mendes Machado atacou a decisão o desembargador, a quem acusou
de favorecer o acusado por ser de uma família rica e tradicional. “Se fosse o
filho de um pobre, de uma pessoa comum, o senhor nunca teria acordado às 3h da
madrugada para soltá-lo, não. E isso quem paga é a instituição, que por essas e
outras vai ficando sem fé no senhor, pois quem manda é o dinheiro, somente o
dinheiro e o poder”, criticou em nota no Facebook.
Dirigindo um Porsche de cor branca, o neto do ex-senador não
obedeceu à ordem de parada de um agente de trânsito, furou a blitz e atropelou
o agente Diogo Nascimento de Souza. O fato ocorreu na madrugada de
sábado, no bairro Bessa, local considerado nobre da zona leste da cidade
de João Pessoa. O agente foi socorrido em estado grave e encaminhado ao
hospital da cidade. Mas não resistiu aos ferimentos.
Rodolpho
não parou o veículo nem mesmo para prestar socorro. No entanto, com o impacto
do atropelamento, uma das placas do carro caiu e a polícia conseguiu
identificar o dono. O Porsche está em nome de Ricardo de Oliveira Carlos da
Silva, filho do ex-senador. No entanto, de acordo com informações da polícia
local, Rodolpho foi identificado como condutor por meio de denúncia anônima.
A
família é dona de empresas de comunicação locais, como a TV Cabo Branco
afiliada da rede Globo, e também é proprietária do Grupo São Braz, um dos
maiores produtores de café torrado do país. O ex-senador e ex-vice-governador
Silva Junior foi presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Café por
dois mandatos.Com informações do site Congresso em Foco.
Comentários
Postar um comentário